Biografia
Nome completo: Luisa Ducla Soares
Onde nasceu : Lisboa
Quantos livros publicou: 45
POEMA - "Tudo de pernas para o ar"
Numa noite escura, escura,
o sol brilhava no céu.
Subi pela rua abaixo,
vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poço
mais alto que a chaminé,
vi peixes a beber pão,
rãs a comerem café.
Construi a minha casa
com o telhado no chão
e a porta bem no cimo
para lá entrar de avião.
Na escola daquela terra
ensinavam trinta burros.
O professor aprendia
a dar coices e dar zurros.
PROSA
Era uma vez uma senhora velha, anafada, muito enfeitada, que tinha um gato novo, muito lustroso, com uma fita verde em redor do pescoço e um guiso dourado, onde estava gravado o seu nome – Felício.
Era um gato de salão, se assim se lhe podia chamar, tinha boas maneiras, miar delicado e fino, unhas cortadas, dormia numa almofada de veludo e só comia peixe, sem pele e sem espinhas. As suas patas almofadadas nunca tinham pisado na rua, nunca tinha trepado ao telhado, percorria apenas as salas alcatifadas.
Certo dia, estava o gato refastelado a descansar de não fazer nada quando viu mesmo à sua frente um rato a comer-lhe do prato.
Deu um pulo, o guizo tocou, o rato subiu pelas cortinas. Felício ficou a cheirá-lo, de nariz no ar à espera que o rato descesse. Mas não descia. Dançava lá em cima, chiava, cantarolando:
- Ó gato Felício
Tu vem-me apanhar!
És gato de sala, não sabes caçar!
Dia após dia, o rato voltava, espreguiçava-se na almofada, lavava as patas na tigela da água, petiscava do bom e do melhor. Felício bem se escondia para lhe deitar unha, mas mal avançava um passo - tlim, tlim - chocalhava o guizo, e o rato, avisado, subia para o armário, saltava para a estante, marinhava pelas cortinas.
-Ó gato Felício tu vem-me apanhar és gato de sala não sabes caçar!
Ao ver-se troçado, deixou-se o gato cair em tal tristeza que não mais comeu nem dormiu.
Enrolando em mantas, levou-o a dona ao veterinário, que o observou da cabeça às patas, tirando-lhe o guizo para lhe apalpar o pescoço.
- Este gato não tem dentes furados, nem espinhas na garganta, nem dores de barriga, nem seja o que for. Deve sofrer algum desgosto.
-Sofrer de um desgosto, o gato Felício, se não lhe falta nada? Então ouviu-se uma voz fininha, a chiar, dentro da algibeira da dona:
- Ó gato Felício tu, Vem-me apanhar!
És gato de sala, não sabes caçar!
A senhora quase desmaiou o veterinário abriu a boca, e enquanto o diabo esfregava um olho o rato saltou para o chão, do chão para a janela, desta para a rua. Atrás dele o gato, atrás a senhora depois o veterinário. O rato esgueirou-se, o gato fugiu, a senhora voltou para casa a chorar, o veterinário foi para o consultório a rir.
Pela cidade, pelos campos pelos jardins, pelos telhados, corriam o rato e o gato, até que treparam ao alto da chaminé da casa onde moravam. O gato abriu a boca, esticou quando pôde as unhas cortadas e zás... ia agarrar o rato quando este caiu pela chaminé abaixo.
- Desta vez não me escapas! -gritou-lhe o gato, e atirou-se também.
Pobre rato, pobre gato! Mergulharam num panelão. Nadava o rato contente no meio da sopa, afogava-se o gato, que não sabia nadar. Então duas gordas lágrimas tombaram dos olhos do rato e logo duas patinhas empurraram o Felício para a borda, ajudando-o a sair. O gato pingado, reconhecido, abraçou o rato pingão, e ambos, pingando sopa, atravessaram a cozinha, o corredor, e foram deitarem-se lado a lado, na almofada de veludo. E desde essa hora ficaram amigos.
Beatriz Nº3, Marina N º18, Sara Nº23, Inês A. Nº12 - 5.ºA
Nome completo: Luisa Ducla Soares
Onde nasceu : Lisboa
Quantos livros publicou: 45
POEMA - "Tudo de pernas para o ar"
Numa noite escura, escura,
o sol brilhava no céu.
Subi pela rua abaixo,
vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poço
mais alto que a chaminé,
vi peixes a beber pão,
rãs a comerem café.
Construi a minha casa
com o telhado no chão
e a porta bem no cimo
para lá entrar de avião.
Na escola daquela terra
ensinavam trinta burros.
O professor aprendia
a dar coices e dar zurros.
PROSA
Era uma vez uma senhora velha, anafada, muito enfeitada, que tinha um gato novo, muito lustroso, com uma fita verde em redor do pescoço e um guiso dourado, onde estava gravado o seu nome – Felício.
Era um gato de salão, se assim se lhe podia chamar, tinha boas maneiras, miar delicado e fino, unhas cortadas, dormia numa almofada de veludo e só comia peixe, sem pele e sem espinhas. As suas patas almofadadas nunca tinham pisado na rua, nunca tinha trepado ao telhado, percorria apenas as salas alcatifadas.
Certo dia, estava o gato refastelado a descansar de não fazer nada quando viu mesmo à sua frente um rato a comer-lhe do prato.
Deu um pulo, o guizo tocou, o rato subiu pelas cortinas. Felício ficou a cheirá-lo, de nariz no ar à espera que o rato descesse. Mas não descia. Dançava lá em cima, chiava, cantarolando:
- Ó gato Felício
Tu vem-me apanhar!
És gato de sala, não sabes caçar!
Dia após dia, o rato voltava, espreguiçava-se na almofada, lavava as patas na tigela da água, petiscava do bom e do melhor. Felício bem se escondia para lhe deitar unha, mas mal avançava um passo - tlim, tlim - chocalhava o guizo, e o rato, avisado, subia para o armário, saltava para a estante, marinhava pelas cortinas.
-Ó gato Felício tu vem-me apanhar és gato de sala não sabes caçar!
Ao ver-se troçado, deixou-se o gato cair em tal tristeza que não mais comeu nem dormiu.
Enrolando em mantas, levou-o a dona ao veterinário, que o observou da cabeça às patas, tirando-lhe o guizo para lhe apalpar o pescoço.
- Este gato não tem dentes furados, nem espinhas na garganta, nem dores de barriga, nem seja o que for. Deve sofrer algum desgosto.
-Sofrer de um desgosto, o gato Felício, se não lhe falta nada? Então ouviu-se uma voz fininha, a chiar, dentro da algibeira da dona:
- Ó gato Felício tu, Vem-me apanhar!
És gato de sala, não sabes caçar!
A senhora quase desmaiou o veterinário abriu a boca, e enquanto o diabo esfregava um olho o rato saltou para o chão, do chão para a janela, desta para a rua. Atrás dele o gato, atrás a senhora depois o veterinário. O rato esgueirou-se, o gato fugiu, a senhora voltou para casa a chorar, o veterinário foi para o consultório a rir.
Pela cidade, pelos campos pelos jardins, pelos telhados, corriam o rato e o gato, até que treparam ao alto da chaminé da casa onde moravam. O gato abriu a boca, esticou quando pôde as unhas cortadas e zás... ia agarrar o rato quando este caiu pela chaminé abaixo.
- Desta vez não me escapas! -gritou-lhe o gato, e atirou-se também.
Pobre rato, pobre gato! Mergulharam num panelão. Nadava o rato contente no meio da sopa, afogava-se o gato, que não sabia nadar. Então duas gordas lágrimas tombaram dos olhos do rato e logo duas patinhas empurraram o Felício para a borda, ajudando-o a sair. O gato pingado, reconhecido, abraçou o rato pingão, e ambos, pingando sopa, atravessaram a cozinha, o corredor, e foram deitarem-se lado a lado, na almofada de veludo. E desde essa hora ficaram amigos.
Beatriz Nº3, Marina N º18, Sara Nº23, Inês A. Nº12 - 5.ºA