BIOGRAFIA
Luísa Ducla Soares, nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939 e licenciou-se em Filologia Germânica. Iniciou a sua actividade profissional como tradutora, consultora literária jornalista, tendo sido directora da revista de divulgação cultural. Foi colaboradora de diversos jornais e revistas. Foi adjunta do Gabinete do Ministro da Educação. Trabalha desde 1976 na Biblioteca Nacional onde iniciou a sua actividade, realizando uma bibliografia de literatura para crianças e jovens em Portugal. Publicou mais de 80 obras de literatura.É sócia fundadora do Instituto de Apoio à Criança. Escreve guiões televisivos e preparou diversos sites de Internet. Vários poemas seus foram musicados, tendo sido editado em 1999 um CD com letras exclusivamente de sua autoria musicados por Susana Ralha. Participa frequentemente em palestras e encontros. Recusou por motivos políticos, o grande prémio de Literatura Infantil. Recebeu o prémio de Calouste Gulbenkian para o melhor livro do biénio e foi premiada também pelo conjunto da sua obra em 1996;em 2004 foi seleccionada como candidata portuguesa ao prémio Hans Christian Andersen.
Algumas obras da autora:
Contrato (poesia), 1970
A História da Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Maria Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Urso e a Formiga, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Dr. Lauro e o Dinossauro, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1988
O Soldado João, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Ratinho Marinheiro, (poesia para a infância), 1973; 2001
O Gato e o Rato, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Oito Histórias Infantis, prosa (Infanto-Juvenil), 1975
O Meio Galo e Outras Histórias, prosa (Infanto-Juvenil), 1976;2001
Mais Lengalengas (recolhas), Livros Horizonte, 2007
Desejo de Natal (Infanto-Juvenil), Civilização, 2007
Há Sempre uma Estrela no Natal, contos (Infanto-Juvenil), Civilização, 2006
A História da Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Maria Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Urso e a Formiga, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Dr. Lauro e o Dinossauro, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1988
O Soldado João, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Ratinho Marinheiro, (poesia para a infância), 1973; 2001
O Gato e o Rato, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Oito Histórias Infantis, prosa (Infanto-Juvenil), 1975
O Meio Galo e Outras Histórias, prosa (Infanto-Juvenil), 1976;2001
Mais Lengalengas (recolhas), Livros Horizonte, 2007
Desejo de Natal (Infanto-Juvenil), Civilização, 2007
Há Sempre uma Estrela no Natal, contos (Infanto-Juvenil), Civilização, 2006
POESIA
Numa noite escura, escura,
o sol brilhava no céu.
Subi pela rua abaixo,
vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poço
mais alto que a chaminé,
vi peixe a beber pão,
rãs a comerem café.
Construi a minha casa
com o telhado no chão
e a porta bem no cimo
para lá entrar de avião.
Na escola daquela terra
Ensinavam trinta burros.
O professor aprendia
a dar coices e dar zurros.
PROSA - Maria Papoila
Nos campos sem fim semeados de trigo havia um casebre e nele morava Maria Papoila. Era uma boa moça, amiga de toda a gente, com duas rosetas na cara, vermelhas como duas papoilas. De manhã à noitinha trabalhava curvada para a terra, alegremente cantava e assim ia passando a sua vida sem história. Até que certo dia lhe bateu à porta um criado real. — Eras tu quem estava a cantar? — Era, porquê?— Ando a correr mundo à procura de alguém que tenha uma voz tão alegre que, ao ouvi-la, todos esqueçam as suas tristezas. Vou levar-te para o palácio do rei, que anda sempre triste e mal-humorado. Maria Papoila nem podia crer no que ouvia. Ah, como ia contente, mais vermelha que nunca, com seu vestido de chita e botas de atacadores! Levava chapéu de palha e pelo caminho colhia espigas e malmequeres para formar um ramalhete. Quando o rei ouviu a sua voz, logo um sorriso lhe perpassou os lábios. Era tão clara, tão quente, tão vibrante de alegria, que as damas e fidalgos se não cansavam de a aplaudir. Mas logo a rainha lhe deu ordem para mudar de trajo. Trouxeram-lhe um lindo vestido de seda preta, uns sapatos aguçados, de grandes saltos. Prenderam-lhe os cabelos com fitas de veludo. Maria Papoila viu-se ao espelho, negra como uma viúva, quis dar um passo e sentiu uma terrível dor nos pés. Mandaram-na sentar, pois já as aias vinham pôr-lhe pó de arroz nas faces. — Estás vermelha demais, pareces mesmo uma saloia. Daqui por diante não podes tornar a andar ao sol. Maria Papoila cantava, cantava sempre. Uma alegria escaldante parecia correr-lhe no sangue e ter de lhe sair pela boca em flor. Mas os olhos começavam a entristecer. Sentava-se ao pé do rei e, enquanto cantava, ouvia as suas ordens, os seus projectos, os seus segredos. Ouvia planear as guerras, decretar a prisão dos descontentes, a morte dos revoltados. Ouvia troçar do suor dos camponeses, da dor dos feridos, da angústia dos desamparados, da miséria do povo. E exigir dos pobres dinheiro, mais dinheiro para esbanjar em festas e amontoar nos cofres. Então a sua voz, que quase se embargava de lágrimas, quase sufocava de raiva, era mais bela do que nunca. Mas perdera a alegria. Deram-lhe colares de pérolas, brilhantes e safiras, trouxeram-lhe pássaros raros, flores exóticas, cozinharam-lhe requintadas guloseimas. Ofereceram-lhe um manto de pele de tigre, um coche de prata puxado a vinte cavalos para passear nos jardins. O rei ordenou novos impostos para lhe construir um palácio de cristal com tecto de ouro. Mandou desviar um rio para lhe fazer um lago. Mas a sua voz era cada vez mais triste. Quando cantava, toda a dor do mundo chorava através dela. Ninguém podia ouvi-la que lhe não viessem as lágrimas aos olhos. Até que, numa noite de tempestade, Maria Papoila fugiu. Enfiou o vestido de chita, as botas de atacadores, levou o ramalhete de espigas ressequidas. Correu pela cidade deserta, por becos esconsos, por ruas desconhecidas. Ao nascer do dia, sentiu-se tão cansada que se deixou cair numa pedra. Não trouxera dinheiro. Tinha fome e sede, os pés doridos, a roupa encharcada e colada ao corpo. Chegara a uma aldeia com casebres de terra amassada, sem janelas, da cor do chão. Um bando de miúdos chapinhava nas poças. Um deles aproximou-se, sorrindo, e estendeu-lhe um naco de pão. Maria Papoila ergueu os olhos húmidos. E novamente a sua voz brotou, alegre, clara, tão alegre, viçosa, tão contagiante, que todos assomaram às portas com um sorriso nos lábios.
Trabalho realizado por:
Miguel Ângelo Gonilho Grilo, Turma: C, Ano: 5º, Nº 20
Luísa Ducla Soares, nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939 e licenciou-se em Filologia Germânica. Iniciou a sua actividade profissional como tradutora, consultora literária jornalista, tendo sido directora da revista de divulgação cultural. Foi colaboradora de diversos jornais e revistas. Foi adjunta do Gabinete do Ministro da Educação. Trabalha desde 1976 na Biblioteca Nacional onde iniciou a sua actividade, realizando uma bibliografia de literatura para crianças e jovens em Portugal. Publicou mais de 80 obras de literatura.É sócia fundadora do Instituto de Apoio à Criança. Escreve guiões televisivos e preparou diversos sites de Internet. Vários poemas seus foram musicados, tendo sido editado em 1999 um CD com letras exclusivamente de sua autoria musicados por Susana Ralha. Participa frequentemente em palestras e encontros. Recusou por motivos políticos, o grande prémio de Literatura Infantil. Recebeu o prémio de Calouste Gulbenkian para o melhor livro do biénio e foi premiada também pelo conjunto da sua obra em 1996;em 2004 foi seleccionada como candidata portuguesa ao prémio Hans Christian Andersen.
Algumas obras da autora:
Contrato (poesia), 1970
A História da Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Maria Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Urso e a Formiga, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Dr. Lauro e o Dinossauro, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1988
O Soldado João, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Ratinho Marinheiro, (poesia para a infância), 1973; 2001
O Gato e o Rato, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Oito Histórias Infantis, prosa (Infanto-Juvenil), 1975
O Meio Galo e Outras Histórias, prosa (Infanto-Juvenil), 1976;2001
Mais Lengalengas (recolhas), Livros Horizonte, 2007
Desejo de Natal (Infanto-Juvenil), Civilização, 2007
Há Sempre uma Estrela no Natal, contos (Infanto-Juvenil), Civilização, 2006
A História da Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Maria Papoila, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Urso e a Formiga, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Dr. Lauro e o Dinossauro, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1988
O Soldado João, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 2002
O Ratinho Marinheiro, (poesia para a infância), 1973; 2001
O Gato e o Rato, prosa (Infanto-Juvenil), 1973; 1977
Oito Histórias Infantis, prosa (Infanto-Juvenil), 1975
O Meio Galo e Outras Histórias, prosa (Infanto-Juvenil), 1976;2001
Mais Lengalengas (recolhas), Livros Horizonte, 2007
Desejo de Natal (Infanto-Juvenil), Civilização, 2007
Há Sempre uma Estrela no Natal, contos (Infanto-Juvenil), Civilização, 2006
POESIA
Numa noite escura, escura,
o sol brilhava no céu.
Subi pela rua abaixo,
vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poço
mais alto que a chaminé,
vi peixe a beber pão,
rãs a comerem café.
Construi a minha casa
com o telhado no chão
e a porta bem no cimo
para lá entrar de avião.
Na escola daquela terra
Ensinavam trinta burros.
O professor aprendia
a dar coices e dar zurros.
PROSA - Maria Papoila
Nos campos sem fim semeados de trigo havia um casebre e nele morava Maria Papoila. Era uma boa moça, amiga de toda a gente, com duas rosetas na cara, vermelhas como duas papoilas. De manhã à noitinha trabalhava curvada para a terra, alegremente cantava e assim ia passando a sua vida sem história. Até que certo dia lhe bateu à porta um criado real. — Eras tu quem estava a cantar? — Era, porquê?— Ando a correr mundo à procura de alguém que tenha uma voz tão alegre que, ao ouvi-la, todos esqueçam as suas tristezas. Vou levar-te para o palácio do rei, que anda sempre triste e mal-humorado. Maria Papoila nem podia crer no que ouvia. Ah, como ia contente, mais vermelha que nunca, com seu vestido de chita e botas de atacadores! Levava chapéu de palha e pelo caminho colhia espigas e malmequeres para formar um ramalhete. Quando o rei ouviu a sua voz, logo um sorriso lhe perpassou os lábios. Era tão clara, tão quente, tão vibrante de alegria, que as damas e fidalgos se não cansavam de a aplaudir. Mas logo a rainha lhe deu ordem para mudar de trajo. Trouxeram-lhe um lindo vestido de seda preta, uns sapatos aguçados, de grandes saltos. Prenderam-lhe os cabelos com fitas de veludo. Maria Papoila viu-se ao espelho, negra como uma viúva, quis dar um passo e sentiu uma terrível dor nos pés. Mandaram-na sentar, pois já as aias vinham pôr-lhe pó de arroz nas faces. — Estás vermelha demais, pareces mesmo uma saloia. Daqui por diante não podes tornar a andar ao sol. Maria Papoila cantava, cantava sempre. Uma alegria escaldante parecia correr-lhe no sangue e ter de lhe sair pela boca em flor. Mas os olhos começavam a entristecer. Sentava-se ao pé do rei e, enquanto cantava, ouvia as suas ordens, os seus projectos, os seus segredos. Ouvia planear as guerras, decretar a prisão dos descontentes, a morte dos revoltados. Ouvia troçar do suor dos camponeses, da dor dos feridos, da angústia dos desamparados, da miséria do povo. E exigir dos pobres dinheiro, mais dinheiro para esbanjar em festas e amontoar nos cofres. Então a sua voz, que quase se embargava de lágrimas, quase sufocava de raiva, era mais bela do que nunca. Mas perdera a alegria. Deram-lhe colares de pérolas, brilhantes e safiras, trouxeram-lhe pássaros raros, flores exóticas, cozinharam-lhe requintadas guloseimas. Ofereceram-lhe um manto de pele de tigre, um coche de prata puxado a vinte cavalos para passear nos jardins. O rei ordenou novos impostos para lhe construir um palácio de cristal com tecto de ouro. Mandou desviar um rio para lhe fazer um lago. Mas a sua voz era cada vez mais triste. Quando cantava, toda a dor do mundo chorava através dela. Ninguém podia ouvi-la que lhe não viessem as lágrimas aos olhos. Até que, numa noite de tempestade, Maria Papoila fugiu. Enfiou o vestido de chita, as botas de atacadores, levou o ramalhete de espigas ressequidas. Correu pela cidade deserta, por becos esconsos, por ruas desconhecidas. Ao nascer do dia, sentiu-se tão cansada que se deixou cair numa pedra. Não trouxera dinheiro. Tinha fome e sede, os pés doridos, a roupa encharcada e colada ao corpo. Chegara a uma aldeia com casebres de terra amassada, sem janelas, da cor do chão. Um bando de miúdos chapinhava nas poças. Um deles aproximou-se, sorrindo, e estendeu-lhe um naco de pão. Maria Papoila ergueu os olhos húmidos. E novamente a sua voz brotou, alegre, clara, tão alegre, viçosa, tão contagiante, que todos assomaram às portas com um sorriso nos lábios.
Trabalho realizado por:
Miguel Ângelo Gonilho Grilo, Turma: C, Ano: 5º, Nº 20